Brasil é 1° no ranking de mortes por crimes relacionados ao esporte.
Segundo pesquisador, violência reflete problemas sociais.
Só no ano passado, foram registradas 23 mortes por consequência de conflitos envolvendo esses grupos organizados de torcedores; uma média de 1,91 mortes por mês. Os números de 2012 equivalem ao total dos dois anos anteriores somados (2010, com 12 mortes, e 2011, com 11), o que indica um aumento significativo nos problemas de violência entre torcedores do futebol. Este ano, números registrados até julho totalizam 13 mortes em seis meses, cerca de duas mortes a cada mudança de seção no calendário, segundo a organização do seminário em Belo Horizonte.
Os números fazem parte de um amplo estudo que, há duas décadas, busca analisar a relação entre a violência e o futebol no Brasil e no mundo. A princípio, o título de primeiro no ranking mundial de violência entre torcedores é assustador. Contudo, segundo o pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Maurício Murad, os crimes tem menos a ver com o futebol e mais a ver com reflexos de problemas sociais.
“O futebol é a modalidade esportiva mais popular em quase todo o mundo. Mais do que um esporte, é uma representação da cultura coletiva. Em países como o Brasil, então, nem se fala. É coletivo e apaixonante. E, como sabemos, a paixão tudo exacerba, tudo acentua, para o ‘bem’, ou para o ‘mal’.", explica. O segundo lugar na lista fica com a Argentina, com sete mortes até julho deste ano, e o terceiro, com a Itália, que tem cinco mortes no mesmo período.
Contudo, os números de crimes dos últimos anos não negam a existência do problema nesse meio. Em seu livro “A violência e o futebol: Dos estudos clássicos aos dias de hoje”, um produto do estudo, lançado em 2007, Murad explica que as preocupações com relação à violência devem ser principalmente direcionadas a determinados grupos infiltrados nesses coletivos de torcida; “Uma minoria perigosa, armada, treinada e, pior, articulada com outras “ tribos” urbanas envolvidas com distintas práticas de violência”, como tráfico de drogas, de armas, entre outros.
Dessa forma, a simples punição das torcidas por determinados crimes não atinge, de fato, o criminoso. “No âmbito cível, as torcidas, enquanto coletivos, podem ser alcançadas pela figura da responsabilidade solidária”, afirma o pesquisador, em entrevista concedida ao G1. Entretanto, ele explica, como reflexo dos problemas sociais, a violência entre torcedores deve ser abordado antes mesmo de chegar até as torcidas organizadas. “É preciso desenvolver um plano estratégico nacional, com medidas interligadas de curto, médio, e longo prazos; medidas de repressão, prevenção e reeducação”, conclui o sociólogo, que lançou, no ano passado, o livro "A violência no futebol", que atualiza os dados da pesquisa e traz novas reflexões sobre o assunto.
A palestra 'Para entender a violência no futebol brasileiro', com o professor Mauricio Murad, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, tem entrada gratuita, e será realizada na Biblioteca Estadual Luiz de Bessa (Teatro José Aparecido de Oliveira), na Praça da Liberdade, às 15h. O encontro é promovido em parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais e a Faculdade de Letras da UFMG. Inscrições e informações pelos telefones (31) 3269-1214 e 3269-1209.
Veja abaixo alguns casos recentes de violência no futebol em Belo Horizonte e na Região Metropolitana
Data | Fato |
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Agosto de 2013 |
Uma pessoa morreu e outras duas ficaram feridas depois que o
ônibus em que elas estavam foi alvo de tiros durante a madrugada. De
acordo com a Polícia Militar (PM), o coletivo estava em Contagem, na
Região Metropolitana de Belo Horizonte, quando um carro ficou lado a
lado, e um homem atirou várias vezes em direção aos passageiros. O
ônibus, conforme informou a PM, estava cheio, principalmente, de torcedores que voltavam da festa do Atlético-MG, realizada na Praça Sete, no Centro da capital mineira. |
Dzembro de 2012 |
Antes do clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro, um telespectador filmou uma confusão
entre torcedores, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo
Horizonte. O incidente ocorreu nas proximidades da estação de ônibus e
metrô do bairro Eldorado. Alguns torcedores carregavam barras de metal.
Pelo menos duas pessoas, aparentemente feridas, foram socorridas por
colegas. |
Outubro de 2012 |
Um torcedor do Atlético-MG foi baleado durante uma briga de torcidas
em um bar no bairro Barro Preto, em Belo Horizonte. De acordo com a
Polícia Militar, um grupo de atleticanos assistia ao jogo contra o Sport
no bar, quando chegaram vários cruzeirenses. Houve confusão, e um dos
cruzeirenses teria atirado no atleticano. Cerca de dez torcedores foram
detidos. |
Agosto de 2012 |
Uma briga entre torcidas organizadas do Cruzeiro no metrô em Belo Horizonte acabou com 18 pessoas detidas.
Funcionários da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informaram
que, durante a confusão, alguns vagões do metrô e as dependências da
estação no bairro Santa Tereza, na Região Leste da capital mineira,
foram depredados. Segundo a PM, os suspeitos eram integrantes de
torcidas organizadas rivais com sede em Belo Horizonte. Todos os detidos
foram ouvidos e, depois, liberados. |
Novembro de 2010 | Um jovem de 19 anos foi espancado até a morte na saída de um campeonato de vale-tudo em um ginásio na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Câmeras de segurança de um shopping registraram tudo em vídeo. Segundo a denúncia do Ministério Público, 12 pessoas foram acusadas. Eles eram torcedores do Atlético-MG e, quando souberam da chegada de membros da torcida rival, saíram da casa de shows e agrediram cinco corcedores com paus e cavaletes. Dois dos acusados foram condenados a 14 anos de prisão. Na época, eles eram os líderes da torcida organizada. Quatro ainda aguardam julgamento. |
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