“Se nós não desmatássemos, não existiria o Brasil. Não existiria nada”, afirmou
Ezequiel Castanha, 50 anos, numa entrevista ao programa “Globo Rural” em meados
do ano passado.
Desde que
essa declaração foi veiculada na TV, a vida de Castanha não foi mais a mesma,
afirma o advogado dele, Valter Stavarengo. “Não tenho dúvidas de que passou a
ser perseguido depois disso.”
Preso no
último dia 21 de fevereiro no Pará, em operação da Polícia Federal, Castanha
foi novamente exibido na TV. Desta vez como “o maior desmatador da Amazônia”.
Entre 2006 e
2014, o homem que está hoje na cadeia em Itaituba (a 1.285 km de Belém) foi autuado
16 vezes pelo Ibama. Somadas, as multas chegam a R$ 40 milhões.
Segundo o
órgão, Castanha foi responsável por invadir e destruir 5.621 hectares de
florestas nacionais e terras de assentamento em Novo Progresso, Altamira e
Itaituba, no Pará, para então negociá-las. A área é equivalente a 35 parques
Ibirapuera.
O prejuízo
ambiental é estimado em R$ 500 milhões.
A PF, que
desencadeou a ação em agosto, o considera líder de uma organização criminosa
que incluía gerentes (com a função de contratar mão de obra para transformar
terras públicas em pastos) e até corretores de imóveis para negociar as áreas
da União.
Os
compradores dos lotes estão no Sul e no Sudeste, segundo o procurador Daniel
Avelino. “Ainda não sabemos quantos são. Essa é a segunda fase do trabalho:
responsabilizar esses compradores.”
Em Novo
Progresso (a 1.613 km de Belém), onde mantém um supermercado, Castanha é uma
pessoa muito estimada, segundo seu advogado.
“Ele se dá
bem com todo mundo. É aquela pessoa paciente, que tem jeito para lidar com
todos. Por isso, é comerciante”, diz Stavarengo.
De família de
agricultores, ele nasceu em Tupi Paulista (a 646 km de São Paulo). Saiu de lá
ainda moço, quando o pai, Onério, 76, decidiu investir em terras no Mato
Grosso.
Em Nova Monte
Verde (MT), a família mexeu com café, mas logo migrou para a criação de gado.
Casado e pai de dois filhos, Castanha decidiu abrir supermercados em Nova Monte
Verde, Cuiabá e, depois, em Novo Progresso.
No Pará,
também comprou e vendeu terras. Assumiu ter desmatado parte de uma fazenda sua,
que não mais lhe pertence. “A área desmatada ficava dentro do percentual
permitido”, diz o advogado.
Segundo o
Incra, Castanha tem oito propriedades em Mato Grosso, algumas transferidas aos
filhos. Em 2008, em uma de suas terras, o governo encontrou 19 trabalhadores em
condições análogas à escravidão. Quem cozinhava era um menino de 13 anos. Todos
foram indenizados.
Hoje, segundo
o advogado, o comerciante toca apenas o supermercado. Para ele, o nome de
Castanha é citado como integrante da quadrilha pela amizade que tem com os
envolvidos. “São pessoas que fazem parte do dia a dia dele. A cidade é
pequena”, diz.
Para o
procurador Daniel Avelino, as provas do envolvimento de Castanha são robustas,
pois houve gravações das conversas telefônicas entre os integrantes do grupo.
Enquanto o
processo, que envolve 23 pessoas, corre na Justiça, a destruição da Amazônia dá
sinais de redução na região. O Ibama estima que, desde o início da operação, o
desmatamento na região da BR-163, onde o grupo agia, pode ter caído 80%.
Se for
condenado em todos os crimes em que é acusado, Ezequiel Castanha pode pegar até
54 anos de prisão.
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