Por descuido, Temer envia a grupo discurso sobre impeachment



Uma gafe do vice-presidente Michel Temer movimentou Brasília nesta segunda-feira (11). Por descuido, ele enviou por Whatsapp, a um grupo de deputados, o áudio do discurso que estava preparando para o caso de o impeachment da presidente Dilma ser autorizado pelo plenário da Câmara.
O áudio foi divulgado pelo site do jornal “Valor Econômico”, é de um discurso de 14 minutos que Michel Temer estava preparando para fazer caso o plenário da Câmara aprove o pedido de impeachment. Nele, Temer fala como se a votação já tivesse acontecido.
“Mas agora, quando a Câmara dos Deputados decide por uma votação significativa declarar a autorização para a instauração de processo de impedimento contra a senhora presidente, muitos me procuraram para que eu desse pelo menos uma palavra preliminar à nação brasileira. O que faço com muita modéstia, muita cautela e muita moderação, mas também em face da minha condição de vice-presidente e naturalmente de substituto constitucional da senhora Presidente da República”, diz o vice. 
Temer disse ainda que para sair da crise o Brasil precisará de diálogo e da união nacional; que isso dependerá da colaboração de todos os partidos; e negou que as políticas sociais possam acabar.
“É preciso manter certas matérias sociais porque nós todos sabemos que o Brasil ainda é um país pobre e, portanto, e eu sei que dizem de vez em quando que se outrem assumir, vamos acabar com o Bolsa-Família, vamos acabar com o Pronatec, vamos acabar com o Fies, isto é falso. É mentiroso. Portanto, neste particular, eu quero dizer que nós deveremos manterem estes programas e até, se possível, revalorizá-los e ampliá-los”, continuou.

Temer também afirma que pensou em esperar a decisão do Senado para se pronunciar, e que serão necessários sacrifícios para superar a crise.
“Não quero avançar o sinal. Até imaginaria que eu poderia falar depois da decisão do Senado, mas evidentemente sabem todos os que me ouvem que, quando houver a decisão definitiva, a decisão do Senado, eu preciso estar preparado para enfrentar os graves problemas que hoje afligem o nosso país. Tudo isto que estou a dizer significará, devo registrar, sacrifícios iniciais para o povo brasileiro, em primeiro lugar. Em segundo lugar, não quero gerar nenhuma expectativa falsa. Não pensemos que, se houver uma mudança no governo, em três, quatro meses estará tudo resolvido. Em três ou quatro meses pode começar a ser encaminhado para resolvermos a matéria ao longo do tempo. Se houver este governo de transição, ou se não houver, fica esta sugestão que estou fazendo para o governo que vier a manter-se”, declarou.

A assessoria do vice-presidente correu para dar explicações. A gravação havia sido divulgada por engano. Temer gravou o discurso em voz alta e, por acidente, acabou mandando o áudio para um grupo de deputados do PMDB.
No Congresso, o discurso deu mais munição para o embate entre os aliados e os que criticam o governo.
“É muito grave, porque, na realidade o presidente, vice-presidente Michel Temer já estava se preparando para assumir a cadeira presidencial sem ser julgado o processo de impeachment da presidente. Para mim, fica muito claro o caráter conspiratório do vice-presidente”, disse Gleisi Hoffmann.
“Há um processo de impeachment em andamento. Portanto, independente de tornar público ou não, o fato é que o que está dito ali é uma demonstração de equilíbrio, de tranquilidade e de preparo político. Portanto, é uma demonstração de preocupação com o Brasil. Isso não pode ser encarado de forma negativa”, declarou Romero Jucá.

No fim da tarde, o próprio vice-presidente explicou o conteúdo da gravação.
“Primeiro lugar, quero dizer que eu falava com vários companheiros e naquele momento me perguntavam se eu estava preparado para a eventualidade daquilo que viesse a acontecer no próximo domingo porque certo e seguramente se exigiria uma manifestação minha. Eu disse olha, então vou fazer o seguinte, eu vou gravar aqui uma coisa que imagino que possa dizer. E daí fiz uma gravação onde ressaltei pontos que tenho defendido ao longo do tempo. Confesso que depois, quando resolvi mandar a gravação para o um outro amigo houve um equívoco e foi para um grupo que acabou divulgando esta matéria, né? Mas eu reitero que aquilo que disse seria exatamente o que eu fiz no passado, continuarei a fazer dependendo do que acontecer no dia 17. Não estou dizendo novidade, volto a dizer, porque são teses que eu tenho sustentado ao longo do tempo”, explicou.

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