Mensalão mineiro: Delação de Marcos Valério pode levá-lo para prisão do ex-goleiro Bruno

BELO HORIZONTE — Condenado a 37 anos de prisão no caso do mensalão do PT, o operador Marcos Valério se ofereceu ao Ministério Público de Minas Gerais para firmar um acordo de delação premiada sobre o mensalão tucano. Na quinta-feira, seu advogado, Jean Robert Kobayashi Júnior, protocolou na 17ª Promotoria de Patrimônio Público da capital uma proposta nesse sentido. O processo tramita na 9ª Vara Criminal. A informação foi divulgada pelo jornal “O Tempo" e confirmada pelo GLOBO.

Segundo Kobayashi, as informações que o operador tem a oferecer são “de extrema relevância” e “precisam vir a público de imediato”. O advogado confirmou que um dos pedidos feitos por Valério como condição para a delação é a sua transferência do Complexo Penitenciário de Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde está preso.
 Ele quer ser transferido para uma Apac, a de Santa Luzia ou a de Nova Lima, que ficam mais perto de BH e têm condições melhores — explicou Kobayashi, em referência às unidades de Associação de Proteção e Assistência aos Condenado (Apacs).
Caso tenha seu pedido aceito, e a eventual delação, homologada, Valério pode ser companheiro de confinamento do ex-goleiro Bruno Fernandes, condenado pela morte de Eliza Samúdio. Bruno cumpre pena na Apac de Santa Luzia.
O advogado informou que não houve nenhuma negociação com os promotores mineiros antes do protocolo na quinta-feira. Ainda assim, Kobayashi espera uma resposta “imediata”:
— Estamos aguardando o MP elaborar uma proposta de delação. Espero que o prazo deles seja imediato.
Marcos Valério também negocia acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava-Jato. Alvo da 27ª fase, deflagrada em abril, o operador pode estabelecer um possível elo entre o esquema de corrupção na Petrobras e o mensalão. Desde maio ele é réu na operação.
Em depoimento prestado em 2012, em uma tentativa fracassada de fazer delação premiada, Valério afirmou ter pedido ao pecuarista José Carlos Bumlai que providenciasse R$ 6 milhões para repassar a Ronan Maria Pinto, dono do jornal “Diário do Grande ABC”, acusado de chantagear petistas — o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ex-ministros Gilberto Carvalho e José Dirceu — por ter informações comprometedoras a revelar sobre a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
Na ocasião, Valério não teria contado aos investigadores que sua empresa, a 2S Participações, teria sido utilizada para intermediar o empréstimo. Na denúncia apresentada contra o operador, o MPF destaca a participação da 2S.
Preso na Lava-Jato, Bumlai contraiu empréstimo de R$ 12 milhões junto ao Banco Schahin. O dinheiro teria sido repassado após contrato do grupo Schahin com a Petrobras para exploração da sonda Vitória 10.000 no valor de R$ 1,6 bilhão. Em junho, o juiz Sérgio Moro autorizou a quebra do sigilo telefônico de Valério e de Gilberto Carvalho.
Segundo a denúncia na Lava-Jato, Marcos Valério realizou repasses de, ao menos, R$ 55 milhões, oriundos de empréstimos fraudulentos obtidos junto aos bancos Rural e BMG. Há dez dias, o operador foi condenado pela Justiça Federal do Distrito Federal a devolver R$ 536 mil ao erário, junto com a agência de publicidade SMP&B, empresa da qual era sócio.

Considerado o embrião do mensalão do PT, o mensalão mineiro envolve desvio de recursos para a campanha de reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998. Azeredo foi condenado, em dezembro de 2015, a 20 anos e dez meses de prisão pela 9ª Vara Criminal de BH. Ele recorre em liberdade.

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