Com aprovação de parecer por 14 votos a 5, impeachment vai agora ao plenário da Casa
Numa rápida sessão de menos de três horas, a comissão especial do impeachment
do Senado aprovou nesta quinta-feira, por 14 votos a 5, o parecer final do
senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) favorável ao julgamento e ao impeachment da
presidente afastada Dilma Rousseff. O parecer encerra a segunda fase do
processo, chamado “juízo de pronúncia”, quando se conclui que há provas para o
julgamento final da petista, afastada desde o dia 12 de maio, dia em que foi
aprovada a abertura do processo. No dia 9, o parecer será votado pelo plenário
do Senado.
A votação dos 19 senadores
foi realizada por meio de painel eletrônico. A comissão é composta por 21
membros, mas o presidente não vota, apenas em caso de desempate. Além disso, o
senador Wellington Fagundes (PR-MT), titular, não compareceu, devido a um
problema no seu estado, e seu suplente também não apareceu. Ele é a favor do
impeachment. Por isso, o placar ficou 14 a 5. No dia 6 de maio, a
admissibilidade do processo havia sido aprovada por 15 votos a 5, na mesma
comissão especial. Enquanto o presidentre Raimundo Lira anunciava o resultado, a
senadora Fátima Bezerra (PT-RN), segurava um cartaz na cor rosa, com a frase:
“Golpe nunca mais”.
Depois de cem dias de
trabalho, a comissão especial encerra seus trabalhos. Agora, todos os
procedimentos serão em plenário. Já cansados de tantas sessões e discursos
repetitivos, os senadores a favor do impeachment foram comedidos. Já os aliados
de Dilma foram mais enfáticos ao insistir na tese de “farsa” e de que a petista
é vítima de um “golpe”. Para agilizar os trabalhos, às 10h32, mesmo com os
discursos em andamento, Lira abriu o painel, cujo resultado só seria divulgado
ao final. A sessão começou por volta das 9h45.
No dia 9, esse parecer
será votado pelo plenário do Senado. Em seguida, haverá prazos para a acusação
– os juristas – e a defesa apresentarem seus documentos finais. O julgamento
final deverá ocorrer a partir do dia 25, mas a data será fixada pelo presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, que é o
presidente do processo nessa fase de pronúncia e no julgamento final.
POLÊMICA SOBRE CENSURA DE
DISCURSOS
O clima esquentou quando o
presidente da comissão especial, senador Raimundo Lira (PMDB-PB), foi acusado
de censura pelos petistas por retirar expressões das notas taquigráficas e da
ata. Ele ainda iniciou a sessão fazendo um balanço sobre os dias “tensos e
intensos” e disse que o país passa por um momento crítico.
Como fez na sessão de
quarta-feira, mandou retirar das notas taquigráficas a expressão “relatório
fraudulento”, usada pela senadora Fátima Bezerra. Lira perdeu sua tradicional
calma diante da acusação do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) de que ele estava
fazendo censura. Lira tocou a campainha e disse que os senadores eram livres
para se expressarem, mas não iria constar nas notas taquigráficas da sessão.
— Não podemos, em nenhuma
hipótese, que o trabalho do senador Anastasia e dos senadores seja chamado de
fraude! Quando chamaram a presidente de criminosa, mandei retirar. Quando
chamaram o PT de quadrilheiro, mandei retirar. Quando disseram que todos os petistas
estivessem presos, mandei retirar — disse Lira.
— É censura! Vou repetir
dez vezes: fraude, fraude, fraude! Quero que conste em meu discurso que é
fraude — dizia Lindbergh Farias.
— Não retiro — emendou
Fátima Bezerra.
Momentos antes, ela falou
de relatório fraudulento.
— Vão passar para a
História como golpistas mesmo. É um golpe contra os pobres. É um relatório
fraudulento — disse, depois, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN).
A senadora Gleisi Hofmann
(PT-PR) ponderou que não havia sentido, porque as expressões estariam
registradas em áudio e vídeo.
— Então, retirem todo o
meu discurso! — disse Lindbergh.
— Não, todo não que é
muito bom — disse o senador Magno Malta (PR-ES).
KÁTIA ABREU EXALTADA
Exaltada e estridente, a
senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), roubou a cena. Ela disse, quase gritando, que
não houve crime por parte de Dilma.
— Eduardo Cunha
(ex-presidente da Câmara) preferiu ver o país aos cacos, desde que os cados
ficassem em seu poder. O presidente Temer, que é meu presidente também, lutou
como um louco para ser vice de novo. Quem é aqui que pode falar de corrupção,
de ética, faça-me o favor! — disse a senadora.
O primeiro a falar na
lista dos senadores inscritos foi o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que
disse que o parecer de Anastasia “berra, grita” as irregularidades de Dilma.
O líder do PSDB no Senado,
Cássio Cunha Lima (PB), disse que Dilma cometeu graves delitos.
— Vivemos um momento grave
da sua história. A presidente Dilma cometeu sim crime de responsabilidade. O
Senado fará Justiça: a presidente Dilma será afastada pelos gravíssimos delitos
que cometeu. A crise não é banal e não estamos encontrando saídas fáceis —
disse Cunha Lima, ressaltando:
— Não vai ter golpe, vai
ter impeachment!
Apenas o décimo inscrito
falou a favor de Dilma: o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). E rebateu
o tucano.
— É um golpe que
economizou os tanques, baiontes, soldados e se consumou em 446 páginas. O clima
que Dilma cometeu foi o mesmo que presidentes cometeram antes dela. Isso aqui é
mero formalismo. Estamos é dando uma pedalada constitucional. Querem vencer no
parlamento porque não conseguem vencer nas urnas — disse Humberto Costa.
Vestida de verde e
amarelo, a senadora Ana Amélia (PP-RS), que presidiu as sessões em vários
momentos, conversou em certos momentos com o advogado de defesa, José Eduardo
Cardozo.
— Ao fazer o diabo para se
reeleger, a presidente levou à crise (atual) — disse Ana Amélia .
O líder do DEM no Senado,
Ronaldo Caiado (GO), citou o colega Cristovam Buarque (PPS-DF), sobre declarações
a respeito da corrupção e da necessidade de reforma política no país.
— Pelo afastamento da
presidente da República! — disse Caiado.
CRISTOVAM DIZ QUE NÃO É
COVARDE
De surpresa, o senador
Cristovam Buarque pediu a palavra para rebater os argumentos do senador
Humberto Costa, Ele não é membro titular da comissão.
— Não posso deixar de
falar. Para dizer a ele que tenho idade suficiente para lembrar do abril de 64.
Não há um tanque de guerra nas ruas, a não ser para proteger as Olimpíadas. Não
sou golpista, como o Senado não é um quartel. Não sou covarde. Vou votar pelo
Brasil, sei que vou perder amigos. Não vou votar com medo, nem com medo de ser
chamado de golpista — disse Cristovam, sendo aplaudido.
Antes do resultado ser
divulgado, a senadora Gleisi Hoffmann admitiu a derrota.
— Sabemos que vamos perder
aqui — disse a petista,
— Vou repetir: Fraude,
Fraude, Fraude! — disse Lindbergh Farias, sendo o último dos 22 senadores a
falar.
— Chega, Vanessa! Chega! —
disse Magno Malta, quando a senadora Vanessa Grazziotin tentava apresentar mais
uma questão de ordem.
Ao final, Anastasia
rebateu críticas de Cardozo.
— Compreendo que não há
nada dirigido a minha pessoa. Reitero o embasamento.
Fonte: O Globo
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