Denúncia – Vazamento de óleo ameaça poluir Rio Tapajós

Alessandra Ksilva, uma das líderes Munduruku na região Oeste, que reside em uma aldeia na estrada do 53º Bis, em Itaituba, disse à nossa reportagem, que informações enviadas pelos indígenas Kaiabi que habitam as margens do Rio Teles Pires, a situação é preocupante, pois uma turbina da usina de São Manoel estourou onde teve grande vazamento  de óleo que está contaminando o leito do Rio Teles Pires.
Alessandra disse que a informação desse acidente ambiental foi repassado também pelo próprio IBAMA. Está descendo no rio manchas de óleo,  e a usina de São Manoel abriu as comporta do desvio do rio que está trazendo muitas sujeiras. Havendo o alto risco de  trazer graves problemas e comprometer o consumo de peixes, assim como também causar uma tragédia social aos indígenas que precisam consumir dessa água e tomar banho.
O óleo do Rio Teles Pires pode também contaminar o Rio Tapajós se não for feita nenhuma ação para impedir essa tragédia ambiental.
ÍNDIOS MUNDURUKU DENUNCIAM DESGRAÇA AMBIENTAL: Em carta ABERTA  o índio Cândido Munduruku faz o apelo, denuncia e mostra o abandono a que os indígenas estão relegados. Publicamos na íntegra a carta desesperada do índio Munduruku.
“Bom dia, aqui é o Cândido Munduruku, liderança indígena. Nós índios do estado do Pará vivemos na margem do rio Teles Pires, onde na barragem São Manoel estão construindo a usina bem próximo da nossa terra. Essa usina está prejudicando demais nossa vida, animais,  rio e florestas.
Quando barragem chegou na nossa região, a gente nunca mais dormiu direito, porque tenho grande preocupação pelo futuro das crianças.
E cada vez mais está piorando e como vocês estão vendo as fotos e nós estamos com grande tristeza vendo isso. E agora, onde nós vamos beber água? Onde nós vamos banhar? Onde nossas mulheres lavarão louças e roupas. Onde a gente pegará água limpa para fazer nossa comida? Onde a gente conseguirá peixes para alimentar nossos filhinhos e as esposas?
Que triste! Mas nossa luta vai continuar contra governo e a gente não tem medo de enfrentar os governantes. Sawe.. Sawe.. Esses peixes estão morrendo por causa da usina que está matando muitos peixes. Cada vez está muito grande a diminuição dos peixes e sumindo os peixes.
E agora, o que a gente vai comer? Porque nós índios vivemos da pesca. Nosso rio é nosso supermercado aonde a gente busca nossa alimentação Essa porcaria da barragem só traz destruição. Nós indígenas queremos cortar a cabeça dono da empresa e depois a gente come.   Essas fotos de animais mortos descendo na frente da nossa aldeia: Boto e jacaré mortos”.
IBAMA INVESTIGA VAZAMENTO DE ÓELO: A mancha de óleo avançou rio abaixo e comprometeu o abastecimento de diversas aldeias indígenas às margens do rio. A causa do acidente está sendo investigada pelo Ibama, que deslocou especialistas para a região, de difícil acesso.
O tamanho do estrago ambiental também está em fase de levantamento. Não se sabe se o vazamento foi causado por problema na estrutura da barragem de São Manoel ou se está relacionado a outro fator, como o afundamento de balsas de garimpo ilegal, muito comuns no Teles Pires. A concessionária Empresa de Energia São Manoel, dona da hidrelétrica, enviou barcos com garrafões de água para os índios. Cerca de 80 famílias, aproximadamente 320 pessoas, moram em aldeias próximas à estrutura de São Manoel.
Segundo Taravy Caiabi, liderança indígena da região, essas aldeias receberam cerca de 2.200 litros de água da São Manoel Energia na terça-feira. Outros 2 mil garrafões foram enviados na quarta-feira. “Isso tudo é uma tristeza muito grande para o nosso povo. Essa região é sagrada para nós. Agora, além de inundarem toda a terra, sujam nossa água. O peixe também sumiu. As pessoas estão ficando doentes, com diarreia. Todos estão preocupados com a saúde”, disse Caiabi.
Marcelo Amorim, coordenador substituto de Emergências Ambientais do Ibama, disse que o órgão sobrevoou a região e confirmou a presença do óleo. Ele não soube precisar, porém, a dimensão da mancha. “Tudo está sendo investigado para encontrar a causa do vazamento”. Juliana de Paula Batista, advogada do Instituto Socioambiental (ISA) que viveu na região, alerta para o risco de o problema se agravar.
Pelo menos outros 900 indígenas vivem em aldeias a cerca de 60 quilômetros da usina. Mais abaixo ainda está a terra indígena Munduruku, onde vivem 8 mil pessoas. “Nenhuma dessas aldeias tem água tratada, os indígenas bebem água in natura do rio. Por isso, qualquer coisa que acontece nessa área é uma tragédia”, disse.
A empresa de Energia São Manoel declarou, em nota, que detectou a mancha de óleo no dia 13 de novembro, mas que a situação da bacia do Teles Pires “já está normalizada”.
A empresa informou que “está analisando as causas do ocorrido” e que segue com o monitoramento periódico da região. São Manoel é uma das últimas grandes hidrelétricas que o governo conseguiu implantar na Amazônia, em meio a uma série de polêmicas envolvendo o impacto do projeto em terras indígenas e a inundação de regiões históricas e sagradas para os índios, como a chamada Sete Quedas do Teles Pires, que ficou debaixo d’água. Processos.
Além de São Manoel, o rio que dá origem ao Tapajós já foi barrado pela hidrelétrica de Teles Pires, Sinop e Colíder, em Mato Grosso. Esses empreendimentos acumulam pelo menos 24 processos movidos pelo Ministério Público Federal, a maior parte deles atrelados a desrespeito aos direitos indígenas e impactos ao meio ambiente, como ocorrências de grande mortandade de peixes.
A Empresa de Energia São Manoel pertence à EDP Brasil, Furnas e China Three Gorges, que prevêem investimento de R$ 2,2 bilhões na hidrelétrica. As obras da usina de 700 megawatts foram iniciadas em setembro de 2014 e a previsão é que as operações comecem em janeiro de 2018.

Fonte: RG 15/O Impacto, com informações do Estadão.

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