Escândalos da JBS preocupam pecuaristas

Há pouco menos de dois meses, a maior marca associada ao abate de proteína animal do planeta, a JBS, ganhou as manchetes nacionais e internacionais ao se envolver em um escândalo político sem precedentes. 
Se de um lado os pecuaristas mostram insegurança em relação ao que ainda pode acontecer e o impacto disso na venda de bois vivos, entidades e associações ligadas ao agronegócio afirmam que se trata apenas de uma fase ruim e que o Pará a atravessa bem em relação a outros Estados. Presidente da Associação dos Criadores do Estado (Acripará), Maurício Fraga Filho é pecuarista em Marabá, sudeste paraense, e afirma que o preço da arroba (equivalente a 15kg de carcaça) do boi vem caindo, desde antes das delações. 
O que complicou a confiabilidade dos pecuaristas da região foi o fato de, pouco dias antes do escândalo, a JBS ter suspendido o pagamento dos animais à vista. “O pessoal aqui ficou preocupado, porque isso é um sinal de fraqueza financeira, e não quer vender para eles”, diz Fraga Filho.
ARROBA
Apesar das incertezas, não há reclamação de atraso nos pagamentos aos pecuaristas ou mesmo de aumento no preço da carne que chega ao consumidor, segundo o presidente da Acripará. O problema é que a JBS corresponde a quase 40% dos frigoríficos em atuação no Pará e chega a abater até 2 mil animais por dia. Uma quantidade absolutamente considerável e que, se “empacar” nos pastos, deve gerar uma queda de preços ainda maior. 
Comprador de bois também em Marabá, o empresário Eduardo de Oliveira não se diz otimista com as perspectivas do mercado. Pelo contrário. Acredita que não deve melhorar até o início de 2020. “O mercado de carne com osso está abarrotado, praticamente todos os frigoríficos estão lotados, o valor da arroba caiu de R$ 140 para R$ 120, por conta desse problema da JBS”, comenta. 
Ele ainda disse que, quando concedeu esta entrevista, em 29 de junho, o presidente da Divisão de Carnes da JBS, Renato Costa, esteve no município reunindo com os pecuaristas na tentativa de convencê-los a não interromper os negócios com a empresa. A informação foi confirmada também por entidades ligadas ao agronegócio.
Para Faepa, Estado tem como enfrentar a crise
Especialistas ligados à União Nacional da Indústria e Empresas da Carne (Uniec) ouvidos pelo DIÁRIO, no entanto, minimizam esse impacto e afirmam que o Pará atravessa a crise econômica com uma série de vantagens em relação a outros Estados, como Goiás e Mato Grosso, muito principalmente por conta das questões climáticas. O boi vivo vendido aqui, historicamente mais barato, foi o que menos desvalorizou nesse processo. Embora esteja na mesma região que Fraga e Oliveira, o também pecuarista Adolfo Gonçalves, em Santana do Araguaia, ou vende para a JBS ou não vende para ninguém. Os demais frigoríficos ficam a pelos menos 400km de sua fazenda, e não aceitam pagar pelo frete do animal. “Vi a arroba cair, de dezembro para cá, de R$ 137 para R$ 120”, reclama. 
Otimista, mas sem deixar de admitir os problemas, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Xavier, mostra mais preocupação, no momento, com a suspensão imposta pelos Estados Unidos com relação à importação da carne brasileira. “Não que os EUA sejam nosso principal importador, mas uma suspensão vinda deles cria um embaraço para outros países e mercados mais significativos”, justifica. Ao mesmo tempo, ele lembra que o Pará abate cada vez mais, tem um grande rebanho e condições climáticas que nenhum lugar do mundo tem. “Qualquer projeto de agronegócio implementado aqui vai vingar. É uma crise das mais significativas, mas vamos continuar ajudando na transformação da sociedade e contribuindo para o saldo positivo da balança comercial”, avalia Xavier.

(Carolina Menezes)

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