Câmara
Brasil-China afirma que investimentos dependem de postura do novo governo
Após investimentos
bilionários no Brasil nos últimos anos, empresários chineses estão "em
compasso de espera" e aguardam sinalizações do presidente eleito Jair
Bolsonaro antes de definir novos negócios, disse à Reuters nesta segunda-feira
(5) o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang.
Projetos de investimento de empresas
chinesas no Brasil confirmados desde 2003 representam aportes de 54,1 bilhões
de dólares, segundo um boletim do Ministério do Planejamento no mês passado,
com outros projetos já anunciados no período que envolvem 70,4 bilhões de
dólares.
Mas Bolsonaro tem em diversas ocasiões
apontado a China como um predador que busca dominar importantes setores da
economia brasileira, o que acendeu um sinal de alerta no gigante asiático em
relação a novos investimentos no país da América do Sul.
"Os chefes de muitas grandes empresas
chinesas estão preocupados. Não é que os negócios estão sendo afetados, eles
simplesmente estão em compasso de espera", afirmou Tang, que assessora
diversas empresas chinesas em transações no Brasil.
"Ninguém vai vir se não é bem-vindo.
Os chineses estão cheios de dúvidas", acrescentou o dirigente, que falou
por telefone diretamente da China.
O presidente da Câmara Brasil-China citou
negociações da chinesa CNPC com a Petrobras para conclusão das obras da
refinaria do Comperj, no Rio de Janeiro, como exemplo de negócio que poderia
ser afetado no caso de se confirmar uma postura mais agressiva do Brasil em
relação à China.
A estatal assinou com a CNODC, subsidiária
da chinesa CNPC, um acordo para conclusão das obras da refinaria do Comperj,
paralisado desde 2014 após denúncias de corrupção reveladas pelas autoridades
na Operação Lava Jato. O negócio ainda envolve investimentos no cluster de
Marlim, na Bacia de Campos.
"O presidente eleito Bolsonaro deve
entender que é muito melhor terminar o Comperj que deixar ele apodrecendo...
tem de dar graças a Deus que chineses querem vir terminar", disse Tang.
Bolsonaro recebeu nesta segunda-feira (5)
um grupo de chineses, liderado pelo embaixador da China no país, Li Jinzhang. O
encontro contou com a presença do economista Paulo Guedes, futuro ministro da
Economia. O diplomata chinês saiu da reunião sem dar declarações.
Críticas
ao aliado
Em outubro, ainda como candidato, Bolsonaro
queixou-se de que a China, principal parceiro comercial brasileiro, "não
está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil". A fala aconteceu
em meio a perguntas de jornalistas sobre intenções de seu governo de levar
adiante uma proposta de privatização da Eletrobras anunciada pelo presidente
Temer.
"Quando você vai privatizar, você vai
privatizar para qualquer capital do mundo? (...) Você vai deixar o Brasil na mão
do chinês?", questionou Bolsonaro na ocasião.
Além dessas declarações, também gerou
irritação no governo chinês uma visita de Bolsonaro a Taiwan em fevereiro.
Pequim considera a ilha autogovernada e democrática como uma província
dissidente.
"A China já demonstrou, vamos dizer,
que não gostou muito das declarações de Bolsonaro e muito menos da visita dele
a Taiwan", afirmou Tang.
Ele avaliou que as queixas do presidente
eleito à China podem ter como base a associação entre o país e o comunismo,
alvo de duros ataques por parte de Bolsonaro e seus aliados.
"A gente não deve voltar para a
mentalidade de Guerra Fria, que já terminou há muitos anos. Esse negócio de
China comunista não existe mais... se ele for à China, vai ver que não tem nada
a ver, que a China vive um capitalismo vibrante", disse Tang.
"Se o presidente Bolsonaro quiser
melhorar a economia brasileira, que é uma das razões pela qual o povo votou
nele, vai ser muito difícil sem a colaboração chinesa", adicionou.
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