DEPUTADO DUDIMAR PAXIUBA QUESTIONA A QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA NO PAIS.










Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, tenho manifestado desta tribuna minha preocupação quanto à qualidade da água e de nossos recursos hídricos e creio que essa inquietação (que não é só minha) tem suas fundadas razões.
Pesquisa recente publicada no Jornal da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) realizada pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA) sobre a qualidade da água distribuída a 40 milhões de brasileiros, moradores de 20 capitais, revela que, embora ela atenda aos requisitos do Ministério da Saúde, ainda precisa melhorar muito.
Para o pesquisador da UNICAMP Dr. Wilson Jardim, a principal preocupação se refere à presença dos chamados interferentes endócrinos, substâncias que afetam o sistema hormonal de seres humanos e animais. Esses interferentes alcançam 800 substâncias que aparecem no líquido, mas não são controladas por leis ou regulamentos.
O pesquisador explica que muitas dessas substâncias vão para os esgotos e os mananciais e são ignoradas nos processos de limpeza e tratamento da água antes que ela retorne ao consumo humano e, com isso, acabam afetando o equilíbrio do sistema hormonal dos seres vivos.
Em publicação recente da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre o tema, denominada O Estado da Ciência dos Produtos Químicos Interferentes Endócrinos, esses órgãos internacionais chamam atenção para os possíveis efeitos nocivos dessas substâncias.
Embora reconheça que não há uma evidência irrefutável de que esses contaminantes estejam afetando a saúde das pessoas, o relatório cita uma série de problemas, como o aumento no número de casos de câncer e a antecipação da idade da primeira menstruação das meninas, problemas que podem estar relacionados à presença desses interferentes na água e no ambiente.
Segundo o pesquisador, a América Latina hoje tem pouquíssimos dados sobre os efeitos adversos na biodiversidade, como dados de feminização de peixes, desaparecimento de sapos e impacto na biodiversidade.
Foram coletadas amostras de água de mananciais e de água já tratada que é servida à população de 19 capitais de Estados Brasileiros e do Distrito Federal, as quais descrevemos em ordem decrescente da presença dessas substâncias: Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Belo Horizonte, Vitória, Teresina, Curitiba, São Paulo, Belém, Goiânia, Natal, João Pessoa, Rio de Janeiro, Brasília, Florianópolis, Manaus, Salvador, São Luis, Recife e Fortaleza.
Podemos, portanto, constatar que a maior concentração de cafeína na água servida à população foi encontrada em Porto Alegre e que Fortaleza é a capital onde a água é menos contaminada. Para o pesquisador, as cidades litorâneas costumam jogar seu esgoto no mar, e esse fato tende a manter a contaminação do manancial baixa, embora não aconselhe alguém a nadar nessas águas.
Observou também que Manaus apresenta uma concentração baixa para os padrões brasileiros, e a razão é a dificuldade de se saturar com esgoto um rio do porte do Rio Negro.
No ranking de mananciais, a Região Metropolitana de São Paulo aparece como a mais contaminada. Para o Dr. Jardim, na Europa é difícil encontrar níveis de cafeína como os encontrados no Brasil. Em termos de contaminantes emergentes, no Brasil bebemos água com qualidade comparável à da água não tratada dos países desenvolvidos.
Lembra o pesquisador que, embora a qualidade da água nos mananciais tenha se deteriorado nas últimas décadas, o processo de tratamento não foi atualizado. Para ele existe apenas a tecnologia para dar o chamado polimento na água, que remove só a parte dos contaminantes emergentes.
Isso ocorre porque a legislação brasileira e os regulamentos sanitários não exigem mais. Portanto, as tecnologias não são implementadas por inércia do poder público e pelo respaldo que as concessionárias têm da portaria do Ministério da Saúde.
Opina o estudioso que a visão de saneamento prevalente no Brasil ainda é a da contaminação com efeitos agudos e imediatos, como um surto de cólera, por exemplo, ao passo que os interferentes endócrinos podem levar anos para mostrar seus efeitos, alcançando até mesmo uma geração.
As empresas de saneamento precisam manter, pelo menos, um controle do nível de cafeína de suas águas, e as pessoas têm que pressionar por um tratamento mais completo da água que será servida aos consumidores.
Para finalizar, é sempre de bom alvitre lembrar que, ao invés de o consumidor se perguntar como pode purificar a água na sua casa, deveria formular a questão certa: como pressionar a concessionária de sua cidade a fornecer uma água de melhor qualidade?

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