AM tem apenas nove candidatos que se identificaram como índios nos registros do TSE

Apesar do Amazonas ser o Estado brasileiro com maior concentração de povos indígenas, até hoje nenhum deles foi eleito para a Câmara Federal ou à Assembleia Legislativa Estadual











Para o antropólogo e professor da Ufam Ademir Ramos, o número representa uma tímida participação indígena no processo eleitoral 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2010, o Amazonas possuía 168.680 indígenas. São Gabriel da Cachoeira (a 851 quilômetros de Manaus) é o município amazonense com o maior número de pessoas que se identificam como indígenas, um total de 29.017 pessoas. Seguido de Tabatinga (a 1.106 quilômetros de Manaus) com 14.974 indígenas e Tefé (a 502 quilômetros de Manaus) com 14.855.
Toda região Norte, de acordo com o TSE, possui 29 candidatos que se declararam indígenas, de um total de 4.353 postulantes aos cargos à disposição nesta eleição. Destes, um concorre a senador e um para 1° suplente, três para deputado federal e 24 para deputado estadual.
No Amazonas, o partido com maior número de candidatos indígenas é o Partido dos Trabalhadores (PT), que lançou para deputado estadual os professores Ely Ribeiro e Sansão Tikuna, e para 1° suplente ao senado a secretária-executiva de Florestas e Extrativismo, Sila Mesquita.
Em seguida, seguem empatados, com dois candidatos cada, o PSDB e o PCdoB. No PSDB, do prefeito de Manaus Artur Neto, aspiram a uma vaga de deputado estadual Adriel Kokama e Osmar Rodrigues. E no PCdoB os candidatos são Fidelis Baniwa e Justina Ticuna.
O PSOL é o único partido do Estado a lançar candidato indígena para deputado federal, o nome escolhido é de Paulo Apurinã, do Movimento Indígena de Renovação e Reflexão do Estado do Amazonas. E o Partido Progressista (PP) lançou Mecias Júnior para deputado estadual.
O antropólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, avalia como tímida a participação indígena no processo eleitoral. “Pela experiência que nós já temos de outros pleitos, a validade dessa participação (indígena) é muito pouca. A verdade é que essas lideranças indígenas servem de bucha de canhão, de escadinha, de cabo eleitoral para determinados candidatos. Na verdade, eles não participam como organizações, eles participam como cidadãos indígenas, então, acabam sendo um cabo eleitoral qualificado”, comentou Ramos.
Maioria dos candidatos possui faculdade
Dos nove candidatos indígenas do Amazonas nas eleições desse ano, apenas dois não possuem nível superior, segundo informações disponíveis no Sistema de Divulgação de Candidaturas (DivulgaCand) no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O ator amazonense Fidelis Baniwa, candidato a deputado estadual pelo PCdoB, que nasceu numa comunidade indígena em Santa Isabel do Rio Negro (a 631 quilômetros de Manaus), possui o ensino fundamental completo. E o também candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM), Mecias Júnior (PP), possui ensino médio completo.
Os outros sete candidatos indígenas (Prof. Ely Ribeiro (PT), Prof. Sansão Tikuna (PT), Sila Mesquita (PT), Paulo Apurinã (PSOL), Adriel Kokama (PSDB), Osmar Rodrigues (PSDB) e Justina Ticuna (PC do B) possuem nível superior completo.
Demarcação de terras preocupa
Membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Francinara Baré, destaca que a principal demanda hoje dos povos indígenas é quanto à demarcação de terras.
“Nós temos leis federais que tratam da demarcação de terras para a população indígena, e você só vê índio sem terra. A Coiab como organização apoia todos os candidatos indígenas, aqui no Estado do Amazonas, nós fizemos até uma carta em apoio aos movimentos pelo fortalecimento das nossas lutas, principalmente neste período em que as nossas diretrizes estão sendo violadas. Lógico que temos muitos políticos não-indígenas que apoiam a causa, mas não são a maioria, e nós precisamos estar fortalecidos”, apontou.
O antropólogo indígena João Paulo Barreto Tukano também considera a questão da demarcação de terra a principal problemática indígena. Para ele, não basta dar terra, é necessário também propiciar mecanismos que deem condições dos povos indígenas gerarem a própria renda. “A questão é que se cria leis sem observar as especificidades indígenas. Não dá para generalizar”, defendeu Tukano.

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