Mulher de Eduardo Cunha e mais três viram réus na Lava-Jato

Juiz Sérgio Moro aceitou denúncia do MPF contra a jornalista Claudia Cruz
SÃO PAULO — O juiz Sérgio Moro aceitou, nesta quinta-feira, a denúncia da força-tarefa da Lava-Jato contra a mulher do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, a jornalista Claudia Cruz. Ela é acusada de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. De acordo com os investigadores, há indícios de que parte da propina desviada da Petrobras abasteceu contas no exterior em nome de off-shores e trusts usados para pagar cartões de crédito internacional utilizados por Claudia Cruz. A filha de Cunha, Danielle Dytz , não foi denunciada, porém, segundo a força tarefa, ela ainda é investigada.
Além dela, viraram réus o empresário português proprietário da CBH Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira, acusado de corrupção ativa e lavagem de dinheiro; o operador João Augusto Rezende Henriques, denunciado por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção passiva; e o ex-diretor a área internacional da estatal, Jorge Luiz Zelada, por corrupção passiva. Para Moro, Claudia Cruz pode ter agido “por dolo eventual ou com cegueira deliberada”.
“A própria ocultação desses valores em conta secreta no exterior, por ela também não declarada, a aparente inconsistência dos gastos efetuados a partir da conta com os rendimentos lícitos do casal, aliada ao afirmado desinteresse dela em indagar a origem dos recursos, autorizam, pelo menos nessa fase preliminar de recebimento da denúncia, o reconhecimento de possível agir com dolo eventual ou com cegueira deliberada”, afirmou o juiz ao aceitar a denúncia contra a jornalista.
Para a força tarefa da Lava-Jato, Cláudia tinha plena consciência dos crimes que praticava sendo a a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior. Entre 2008 e 2014, ela gastou mais de US$ 1 milhão. O gasto, de acordo com a denúncia do MPF, “totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito” dela e de Cunha. Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek (99,7%) teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha.
Os investigadores afirmam que Eduardo Cunha usou contas não declaradas no exterior para, “em segredo a fim de garantir sua impunidade, receber e movimentar propinas, produtos de crimes contra a administração pública”. Segundo o MPF, parte do dinheiro transferido para a conta Köpek de Claudia Cruz saiu dos cerca de US$ 1,5 milhão em propina que Cunha teria recebido para “viabilizar” a aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.
Os mais de US$ 1 milhão recebidos pela mulher de Cunha foram utilizados, de acordo com a denúncia, para pagar compras de luxo feitas com cartões de crédito no exterior. Cruz teria gasto US$ 854 mil artigos de grife, como bolsas, sapatos e roupas femininas. Outra parte dos recursos foi destinada para despesas pessoais diversas da família de Cunha, entre elas o pagamento de empresas educacionais responsáveis pelos estudos dos filhos do deputado afastado, como a Malvern College (Inglaterra) e a IMG Academies LLP (Estados Unidos).
MPF MAPEOU CAMINHO DA PROPINA NO EXTERIOR

Documentos enviados pela Suíça ajudaram os investigadores a acharem o rastro da propina até a conta da mulher de Eduardo Cunha. As informações obtidas por meio de quebras de sigilo bancário e fiscal e depoimentos de delatores da Lava-Jato identificaram o pagamento de US$ 10 milhões de propina para que a aquisição do campo de petróleo na África fosse concretizada. De acordo com a denúncia, o negócio foi fechado pela Petrobras por US$ 34,5 milhões, o que significa que quase um terço do valor total foi destinado a pagamento de vantagem indevida.

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