Revisão das perícias vai prejudicar atendimento no INSS, diz associação.

Pagamento de bônus para perito no pente fino terá reflexo na fila de espera por benefício 
A revisão dos benefícios por incapacidade pagos há mais de dois anos para os segurados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) pode complicar ainda mais o atendimento e o tempo de espera pela concessão do auxílio-doença. As convocações começaram neste mês e os peritos vão receber um bônus de R$ 60 por exame.
De acordo com o modelo proposto pelo governo, os peritos envolvidos na revisão terão que usar a primeira hora de trabalho para avaliar os benefícios suspeitos. Para a Cobap (Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas), o tempo destinado à análise dos novos pedidos será prejudicado. Além disso, o bônus seria uma espécie de pagamento em duplicidade, pois os peritos já recebem para fazer a avaliação e a reavaliação dos segurados.
Confira a entrevista com Warley Gonçalves, presidente da Cobap, sobre a revisão. A entidade também quer a volta de uma pasta específica para a Previdência Social e critica os planos do governo para mudar as regras de concessão das aposentadorias. 
R7: O governo diz que a revisão dos benefícios por incapacidade e a Reforma nas regras de concessão são necessárias para equilibrar as contas e conter o déficit. A Cobap defende há anos uma posição contra a ideia que a Previdência é deficitária. Por que não existe déficit e quais os motivos do governo para querer a Reforma então?
Warley: Porque o dinheiro da Previdência, pago obrigatoriamente pelos trabalhadores legais, é desviado para outros fins, além cobrir gastos sociais que devem ser despesas da União. Além disso existem as renúncias fiscais e a imensa dívida não paga pelos devedores da Previdência. Tudo o que o governo fala de déficit, nada tem a ver com o envelhecimento da população, que pagou a vida inteira a Previdência.
R7: Com o fim da pasta da Previdência ficou mais difícil o diálogo com o governo? Como estão as negociações dos temas importantes para os aposentados no Conselho Nacional da Previdência Social após o fim da pasta? O Conselho perdeu força?
Warley: Com certeza! Antes tínhamos um ministro pra dialogar questões específicas dessa máquina complexa que é a Previdência. Técnicos, especialistas que desenvolviam um trabalho coordenado com a população e submetiam ao ministro. Agora está tudo descoordenado. Ainda estamos perdidos e lutando pela volta do Ministério.
R7: Durante a revisão dos benefícios por incapacidade, os peritos do INSS vão receber um  bônus de R$ 60 por atendimento feito, dentro da jornada de trabalho. Ou seja, além do pagamento do salário eles vão receber um extra para fazer o que já é parte da rotina de trabalho deles. Isso não seria então uma remuneração em duplicidade?
Warley: Sim! Inclusive a COBAP já denunciou, através do nosso site, a ilegalidade desse absurdo.
R7: No dia 27, a Cobap vai fazer um protesto em Brasília pela volta do Ministério da Previdência Social. Quais são as outras reivindicações?
Warley: Nesse momento difícil do nosso país, nos unimos a outras entidades e unificamos bandeiras para ganharmos força. Nesse ato do dia 27 estaremos juntos com a Federação Nacional das Entidades Sindicais de Funcionários Públicos (FNESPF) e reivindicaremos, além da volta do Ministério, a não reforma previdenciária e a equidade e paridade salarial. Os parceiros da Anasps também estarão conosco.

R7: Há alguns anos, o ministro Berzoini caiu porque o INSS cortou o pagamento dos benefícios de idosos com mais de 90 anos para que eles provassem que estavam vivos. O senhor acha que o ministro Eliseu Padilha, do Planejamento, está cometendo um erro parecido fazendo este pente-fino sem ouvir as entidades de aposentados e pensionistas e dando bônus para os médicos?

Warley: Com certeza. Assim como fizeram com as pensionistas, taxando-as de interesseiras, estão acusando os aposentados por invalidez de desonestos. Recebemos dezenas de ligações diárias de pessoas desesperadas, que estão há anos fora do mercado de trabalho e já comprovaram através dos médicos que as acompanham que não podem desenvolver suas profissões. Essa medida causou um desespero geral em pessoas com a saúde já debilitada, sem haver nenhum diálogo e conhecimento da realidade dessas pessoas.

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