“Cidade
que venceu o desmatamento”, “bom exemplo da Amazônia” e expressões como
essa era o que diziam todos os textos que eu encontrava sobre
Paragominas (PA). Durante semanas busquei informações que pudessem me
mostrar o outro lado da história, algum problema que as reportagens até
então tinham se esquecido (voluntariamente ou não) de citar. Sem êxito.
Aparentemente, a cidade que era a
síntese da destruição da floresta havia se transformado em pólo
irradiador de soluções. É óbvio que, sentada no aeroporto de Guarulhos,
prestes a embarcar para Belém (PA), eu não acreditava nessa história. O
excesso de heróis me lembrava os contos de fada, que eu já aprendi que
não são reais.
Cheguei à tal cidade-modelo quase dez
horas depois de ter deixado São Paulo (SP). A noite só me mostrava certa
organização pouco peculiar às cidades amazônicas – quarteirões
simétricos, trânsito organizado, praças iluminadas e povoadas por
pessoas se exercitando. Nada grande o suficiente para matar o meu
ceticismo. Os dias que se seguiram foram marcados por vários encontros
com os heróis municipais.
Um deles em especial, o presidente do
sindicato dos produtores rurais de Paragominas Mauro Lúcio, esteve
comigo e com o fotógrafo Valdemir Cunha quase em tempo integral.
Carismático, ele é, sem dúvida, um excelente garoto-propaganda. À medida
em que os dias se passavam, nós, eu e o Valdemir, balançávamos entre a
crença no que nossos olhos nos mostravam e a desconfiança característica
da nossa profissão.
Resolvi fugir do que me mostravam na
cidade. Queria falar com quem não estava envolvido naquele projeto
grandioso batizado de Município Verde. Fui atrás do representante do
Incra em Paragominas, Aristides Ganzel. O órgão não era parceiro do
projeto e era constantemente criticado pelas lideranças municipais. Em
quase três horas de conversa, Ganzel, adversário político declarado da
atual gestão municipal, mostrou que ainda há pontos a serem resolvidos,
mas não pôde evitar dizer que o município merece, sim, ser transformado
em modelo.
Não satisfeita, fiz contato com o perito
ambiental criminal da Polícia Federal Gustavo Gêiser, que trabalhou
durante seis anos no Pará e foi várias vezes ao agora chamado de
Município Verde. “Paragominas é minha cidade favorita. Eles sempre foram
muito eficientes em extrair madeira, mas quando precisaram enfrentar o
problema, também foram os mais eficientes da Amazônia”, foi o que ele me
disse por telefone quando eu já estava de volta a São Paulo e tentava
sanar minhas últimas dúvidas. O Greenpeace, ONG que nos últimos anos tem
sido uma das mais críticas em relação à pecuária na Amazônia, também
não soube desmerecer o trabalho em Paragominas.
Dei-me
por satisfeita, enfim. Terminei de escrever a reportagem com um
sentimento misto de felicidade e revolta. Felicidade por ter visto com
os meus próprios olhos que ainda existem pessoas fazendo a coisa certa.
Por ter comprovado que é possível produzir sem jogar a floresta abaixo.
Por poder dar essa boa notícia aos leitores da HG.
E revolta por saber que por pura e
simples falta de boa vontade em outros lugares, Paragominas é exceção.
Por saber que o município ganhou destaque simplesmente por fazer o que
deve ser feito – nada mais, nada menos. A felicidade só será realmente
completa quando municípios como Paragominas não forem mais notícia – e
isso só acontecerá quando eles também não forem mais exceção.
Confira quais foram as transformações que deram fama a Paragominas na edição 139 da Revista Horizonte Geográfico
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