Aquele grupo de vândalos, aos berros, não representa todos os médicos
brasileiros, menos ainda representa tantos médicos que conheço, pessoas
decentes e comprometidas com a saúde do seu semelhante. Poderia aqui
citar tantos nomes de médicos e médicas educados e dedicados, porém não
faço para não cometer omissões.
O vergonhoso episódio do grupo de médicos que foi ao aeroporto de
Fortaleza gritar e humilhar os médicos que chegavam de Cuba não tem nada
com a medicina. Tem a ver com extrema falta de educação de pessoas mal
formadas tanto nas suas famílias como nas escolas que frequentaram. O
que fizeram no aeroporto diante de pessoas estrangeiras, que vêm ao
Brasil contribuir com a saúde pública, dá uma ideia do que fazem nos
seus consultórios com pacientes pobres e fragilizados.
Aquele grupo de vândalos, aos berros, não representa todos os médicos
brasileiros, menos ainda representa tantos médicos decentes e
comprometidos com a saúde do seu semelhante. Poderia aqui citar tantos
nomes de médicos e médicas a quem conheço, porém não faço para não
cometer omissões.
Na Amazônia, a presença de médicos de outros países é antiga e um dos
exemplos respeitáveis foi a vinda de médicos dos Estados Unidos para
Santarém, nos anos áureos da extração da borracha, resultando na
instalação do hospital da Fundação SESP, dentro do qual eu nasci, fui
vacinado e nunca tive as doenças hoje tão comuns nos recém-nascidos.
Médicos estrangeiros que, juntamente com brasileiros, estabeleceram uma
mística da saúde pública, com uma vasta rede de enfermeiros e
enfermeiras visitadores que, em vez de apenas ficar esperando que as
pessoas procurassem os consultórios, andavam pelas ruas, estradas e rios
à procura dos doentes, das gestantes, verificando a medicação de quem
estava com tuberculose ou malária, etc.
Mais recentemente, quem se destacou em Santarém foi o médico Frei Lucas
Tupper, fundador da Clínica dos Pobres, que viria a se transformar na
Fundação Esperança, com a contribuição de outros médicos, dentistas,
enfermeiros e técnicos estrangeiros, sejam dos USA, da Bolívia, do Peru
ou as Suíça.
A maioria dos países, em algum momento de sua evolução, precisa da
contribuição de profissionais estrangeiros, e o Brasil é um dos melhores
exemplos não apenas no setor médico. Quando se aboliu a vergonhosa
escravidão, em 1888, foram os italianos chamados, em massa, para virem
com seus braços e seu conhecimento de agricultura ajudar na construção
da riqueza nacional. Logo depois foram milhões de japoneses que vieram
trabalhar. Vieram alemãs, poloneses, russos e tantas outras
nacionalidades.
Nos Estados Unidos se diz que, se algum dia, os médicos indianos
retornassem a seu país, o sistema de saúde norte-americano entrariam em
colapso.
Os médicos que foram berrar no aeroporto de Fortaleza, assim como as
lideranças das associações médicas que prometem até chamar a polícia
contra os profissionais que chegam de outros países desconhecem a
história do Brasil ou fazem que desconhecem. Aquela gritaria em
Fortaleza é preocupante porque deixa a dúvida sobre o preparo daqueles
médicos, afinal se, em público, demonstram tanta brutalidade e
selvageria, que educação específica receberam em suas faculdades?
Conhecem, mesmo, a medicina ou são simples camelôs de laboratórios da
indústria farmacêutica? Encaram o ser humano com respeito e dedicação ou
olham para o corpo do outro tão somente como objeto por meio do qual
ganham muito dinheiro? Enfim, por que foram hostilizar os seus colegas
estrangeiros que irão para as cidades aonde eles mesmos, os brasileiros,
se negam a ir?
A impressão que fica é que, ao extrapolar o aspecto da saúde, a atitude
daquele grupo selvagem parte de sua condição de classe e não de médicos.
Ao presenciar aquela cena, imagina-se a realidade dos pobres que
perambulam desorientados pelos corredores dos hospitais públicos. Os
autores daquela gritaria desejam, mesmo, é o esfacelamento total do SUS,
para que a privatização da medicina se estabeleça por completo, além do
que já está. E a saúde deixe de ser um bem de todos, como manda a
Constituição, para se tornar uma mercadoria cara só acessível a quem
pode pagar.
Aquela gritaria foi um gesto ideológico, que visa a atingir um governo
que tenta encontrar meios de socializar o bem universal da saúde,
gratuitamente. Aqueles berros já são parte da campanha eleitoral de
2014, com vistas a interromper qualquer iniciativa de tornar a medicina
acessível ao maior número de brasileiros pobres. Se isso não fosse, por
que não foram gritar no governo FHC, que trouxe quase 300 médicos
cubanos para os sertões brasileiros? Qual a diferença destes de agora e
daqueles acolhidos por José Serra?
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