É dada a largada

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Após o desembarque do PMDB, meio assim de banda, do governo Dilma Rousseff, dizendo uma espécie de adeus ao lulo-petismo que agoniza, o PMDB continua a Geni preferida do anedotário político nacional: quando apoiava o fazia “por fisiologismo” e agora que não apoia, “abandonou o barco à deriva”.
O fato é que o governo já não tinha os 68 deputados federais do PMDB na sua base: praticamente metade disso fazia oposição. Com a decisão oficial da sigla, a metade situacionista reduz-se a sua terça parte de imediato, pois apenas três dos sete ministros anunciaram que não deixarão o governo e esses três juntos têm, exatamente, os seus três votos somente.
Shot 015É claro que o vice-presidente Michel Temer comandou a saída, praticamente unânime do PMDB, de dentro do Palácio do Planalto, porque aposta que lhe subirá a rampa em questões de dois ou três meses.
O risco assumido foi milimetricamente referido, mas como quem não arrisca não petisca e o governo tem deteriorado a passos largos, o vácuo do PMDB pode, de vera, arrastar outras siglas no rebojo que faz na retirada. Este ponto, de imponderável no início do estouro da boiada, passou a ser tangível três dias antes da vinda do partido ao tronco, logo que se teve a certeza de que ele dobraria os ombros ao lulo-petismo.
Desde a certeza de que o PMDB romperia, o que ocorreu depois da conversa entre o presidente do Senado, Renan Calheiros, um dos derradeiros bastiões do governo, com Michel Temer, na segunda-feira (28), o PSD de Kassab liberou os seus 31 deputados e o PP e o PR pressionam os seus presidentes para arremedar o movimento do PMDB. Esses três partidos somam 120 deputados.
A tendência, portanto, se o Planalto não providenciar o milagre de, rapidamente, redistribuir os cargos a serem deixados pelo PMDB, dentre os pequenos partidos, sem deixar muitos descontentes – e isso é complicadíssimo devido a inabilidade do governo nesse manejo, na corrida ensandecida pelo espólio a ser arrecadado – é o empuxo da degradação da base aliada, no que a oposição começará a investir.
O derretimento da base será na direta proporção dessa carreira: os deputados procurados por Dilma terão uma expectativa de poder de, no máximo, seis meses, e de Temer uma expectativa de dois anos. A clientela desse dilema é que, ao cabo, decidirá a sorte do impeachment.
Convenhamos, todavia: um governo que não reúne expediência suficiente para impedir que a oposição alcance dois terços da Câmara dos Deputados, não está apto a governar, pois governabilidade, nas democracias, só se consegue com sustentação parlamentar, e colunas sem sustentação, caem.
Mãos à obra, portanto: uma, para cavar alicerces, outro, para solapar o fosso. Eu continuo, até quando escrevo essa postagem, na opinião de que a oposição não conseguirá os 342 votos necessário na Câmara Federal, para enviar o impeachment ao Senado. Se conseguir, o Senado não conseguirá barrar a enxurrada.

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