Ex-diretor da J&F, Ricardo Saud diz que repassou
R$ 30 milhões a deputados para eleger presidente da Câmara o emedebista, visto
como contraponto a Dilma
O relator da Operação Lava
Jato no Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Edson Fachin,
determinou a abertura de um inquérito para investigar a suposta compra de apoio
político para a eleição de Eduardo Cunha
(MDB-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados. Os supostos
repasses, de R$ 30 milhões, teriam sido autorizados pelo executivo Joesley Batista,
do grupo J&F.
O caso ficou parado na
Procuradoria-Geral da República (PGR) por mais de um ano, o que levou Fachin a
questionar a então procuradora-geral da República Raquel Dodge sobre o
andamento da apuração. O pedido de abertura de investigação foi formulado em
outubro pela equipe do sucessor de Dodge, Augusto Aras.
O inquérito foi instaurado
com base na delação premiada do ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo
J&F Ricardo Saud. Segundo ele, Cunha teria pedido ajuda do grupo J&F
para conseguir angariar votos suficientes para a eleição que definiria o
comando da Câmara. Joesley teria ficado responsável por viabilizar o apoio com
recursos financeiros, enquanto Saud se envolveria na articulação com as
bancadas de Minas e Rio e de alguns líderes.
O nome de Cunha – que foi
deputado federal de 2003 a 2016 – era visto como a melhor opção para fazer
contraponto à então presidente Dilma Rousseff no início do segundo mandato da
petista. Eleito, Cunha, rompido com o governo do PT, autorizou a abertura de
processo de impeachment contra a petista.
Segundo Saud, dos R$ 30
milhões solicitados por Cunha e aprovados por Joesley Batista, R$ 13.823.307,09
foram direcionados para a bancada do PMDB (hoje MDB) de Minas Gerais, a pedido
do próprio Cunha. Saud também relatou pagamentos da ordem de R$ 5,964 milhões
com a emissão de notas fiscais “frias” de serviços simulados de escritórios de
advocacia.
“Esse cenário probatório,
ao menos tal qual delineado atualmente aponta para a prática, pelos
investigados, em concurso de pessoas, dos crimes de corrupção e de lavagem de
capitais”, escreveu o subprocurador-geral da República, Bonifácio de Andrada,
ao pedir a abertura de inquérito a Fachin.
Como o caso está
relacionado a um esquema de corrupção e de lavagem de dinheiro levantado pela
Operação Capitu, alvo de investigação que já tramita no Tribunal Regional
Federal da 1ª Região (TRF-1), a PGR pediu que parte das apurações seja
desmembrada e encaminhada àquele tribunal.
É a parte da apuração que
trata de pessoas que não possuem mais cargos com prerrogativa de foro perante o
STF, ou que mudaram de função pública: Cunha, o ex-deputado federal Sandro
Mabel (MDB-GO), o ex-senador e atual ministro do Tribunal de Contas da União
(TCU) Vital do Rêgo, entre outros.
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