Por que pagamos tão caro pela energia que consumimos?


A Conexão Amz comparou as contas de consumidores de outros Estados e constatou o que os paraenses já sentem no bolso: pagamos uma das tarifas mais caras do País


Você também pega um susto toda vez que recebe sua conta de energia elétrica? O assunto virou tema de discussão na redação da Conexão AMZ e nossos jornalistas decidiram comparar o valor de algumas contas pelo Brasil para constatar o que a maioria dos consumidores paraenses já sabe: pagamos uma das contas mais caras do Brasil.
Para começar, a jornalista Rita Soares foi buscar uma conta na capital federal. Em Brasília, vivendo em um apartamento de 160 m², a servidora pública aposentada Cecilia Torres possuí três televisores, um aparelho de ar condicionado, aspirador de pó, forno elétrico, microondas, máquinas de lavar roupa e louça, além de itens como ferro de passar, liquidificador, geladeira, computadores e secador de cabelos, usado todos os dias. Se você já começou a calcular o valor da conta vai levar um susto. Cecília pagou em abril pouco mais R$ 300 pela energia elétrica que consumiu. A média mensal não foge muito desse valor.
Seguindo viagem, em São Paulo, nosso jornalista Rodrigo Vieira mora sozinho em um apartamento equipado com televisão, microondas, torradeira, máquina de café, ferro elétrico, liquidificador, geladeira com freezer, aspirador de pó, secador de cabelo, máquina de lavar, dois ventiladores de teto e dois notebooks. Fez as contas? Então senta. No último mês, Rodrigo pagou pouco mais de R$ 86 pela conta de luz. 
Consumidor em São Paulo paga menos de R$ 100 pela energia elétrica (Rodrigo)

Em Belém, ouvimos a psicóloga Lucíola Santos, que também mora sozinha e pouco usa os eletrodomésticos da casa – máquina de lavar e ferro de passar só são ligados uma vez por mês, por exemplo – mas é quem paga, de longe, a conta mais cara. O valor varia entre R$ 550 e R$ 750 por mês. “Um dos problemas que vejo é a instabilidade de consumo e valores, apesar de eu morar só e consumir praticamente sempre a mesma quantidade e da mesma forma”, reclamou.
Queixa também na indústria 
No Pará, não são só os consumidores residenciais que reclamam da conta de energia elétrica. O alto valor da tarifa traz prejuízos para a indústria e representa um entrave para o desenvolvimento econômico do próprio estado, segundo o presidente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), José Conrado Santos. 
“As indústrias, principalmente as eletrointensivas, deixam de se instalar no Pará porque o custo é muito alto. Então temos dificuldade de promover uma verticalização industrial mais intensiva no estado por conta dessa tarifa absurda, que faz com que a gente perca competitividade. A energia elétrica tem uma parcela considerável no custo da produção industrial. Se eu tenho uma tarifa cara meu produto se torna mais caro”, explicou. 
Conrado citou como exemplo a produção de arroz em Santa Cruz do Arari, na Ilha do Marajó, onde o sistema de irrigação é mantido por gerador a diesel, cujo custo, apesar de elevado, é mais barato que o da energia elétrica. “As indústrias acham um absurdo que nós, enquanto maiores produtores de energia elétrica no Brasil e maior produtores de energia limpa e renovável, paguemos uma das tarifas mais caras do país”.
Nono lugar
Procurada pela reportagem da Conexão AMZ a Celpa, responsável pela distribuição da energia elétrica no estado, informou que o Pará ocupa apenas a nona colocação no ranking das energias mais caras do Brasil. De acordo com Lazaro Soares, gerente regulatório concessionária, a tarifa reflete o custo de toda a cadeia produtiva da de energia elétrica até achegar à casa do consumidor. Desde a geração, passando pela transmissão, distribuição, encargos setoriais e tributos.
“É muito mais oneroso você construir uma rede longa para atender um número pequeno de consumidores. Enquanto que, em um estado como São Paulo, onde você tem uma quantidade maior de consumidores e uma rede praticamente toda construída você só precisa fazer uma extensão”, explicou. 
Além desse investimento, a Celpa alega que os encargos e tributos que incidem sobre o valor da energia elétrica adquirida pela concessionária para ser distribuída aos consumidores contribuem para fazer da energia, no Pará, uma das mais caras do país são. “Para se ter uma ideia, em uma fatura de R$ 100, apenas R$ 22 são destinados à Celpa para que ela possa operar, expandir e investir no seu sistema. O restante, R$ 78, é destinado ao pagamento da energia, encargos setoriais, transmissão e impostos”, justifica.
Fecha essa conta as perdas – com os famosos gatos – que também são repassadas ao consumidor final. “A distribuidora compra energia para fornecer ao consumidor. Se, ao final, essa energia não chega a ser faturada, o custo é rateado entre todos os consumidores para que seja garantido o equilíbrio da concessão.”


Comentários